Podem os poetas mudar o mundo? Questionamento à Gottfried Benn

Podem os poetas mudar o mundo? Eis um questionamento que faço, e precisamente o faria, se tivesse a oportunidade, à pessoa de Gottfried Benn! Adicionando também a figura do filósofo [pensador]. Aos teólogos não acredito que seja possível realizarem algo mais [in]felizmente. Infortúnio! Aqui, o povo comum – alguns destes já transformados em figuras bestiais – enxerga em sua base de vida [interior] apenas coisas úteis e vantajosas para si, entregue a um utilitarismo barato, pífio, pérfido.  

De acordo com o sr. Benn, o poeta – insisto em incluir a figura do filósofo, os quais acredito que estejam intimamente ligados não tem o poder de mudar o mundo, e nem deve tê-lo ou querê-lo. Mas e se tivesse? Mudaria? E de acordo com que gosto? Que moral!? Quais seriam os seus valores? A verdade é que o poeta e o filósofo, enquanto figuras que conclamam o homem comum a pensar, sair de si, vivem marginalizados pela sociedade, e também o estam das mudanças políticas. Levando isto em consideração, e tendo uma noção do que Benn quer expressar com isso, percebe-se que o poeta-filósofo não quer, necessariamente, transformar ou agir, mas antes, quer simplesmente ser! Ser aquilo que se é! Ananke! Há algo aqui neste pensamento que me remete a estes “segredos do Espírito”, que atingem somente algumas mentes: os poetas e os filósofos! 

É profunda esta constatação, que desvela não apenas a conduta existencial dos grandes pensadores, mas do homem enquanto espécie. Há aí um leve tom de niilismo e, para aqueles que conhecem Gottfried Benn, um bom toque de cinismo. Eis o caos e a absurdidade do mundo, que nem mesmo os poetas e filósofos conseguiram mudar! O homem é capaz de criar, mas não consegue alterar sua própria criação... um tanto irônico! O homem, agente da História, não consegue intervir no curso da História? Ou este pode intervir mas é indiferente? São questões que fazem-nos pensar, de certa maneira. Fato tangível é que o homem está em constante mudança. Nunca sabemos, entretanto, se tal mudança será para melhor ou para pior. O homem está sempre em formação, tanto que, notoriamente, conceitos como “aurora” e “crepúsculo” da humanidade já são sólidos e consagrados. Portanto, cabe-nos aqui perguntar: sobre que tipo de mudança o sr. Benn fala? Uma mudança no ser, na natureza do homem? Apenas mudanças políticas e sociais? Algo mais superficial como um melhoramento material do homem? Contraponho-me a qualquer menção de chamar aqui, o sr. Benn, de mero niilista ou até mesmo derrotista. Benn fala de uma superação da ingenuidade racional e higienista. Tratando-se de meras questões comunitárias, parlamentares, industriais, entre outras, o poeta-filósofo não pode – e não deve – mudar o mundo. Isto é, segundo Benn, papel mesquinho, abaixo até mesmo de um posicionamento utópico. O poeta-filósofo deve, antes, ocupar-se de ser um si-mesmo, ser o que está constituído para ser, em sua própria relação com o mundo. O poeta-filósofo deve se ocupar de seu ofício, mesmo que este não tenha efeito histórico-social algum, que seja um trabalho sem consequências e recompensas, ao contrário do político e agitador social. O papel do poeta-filósofo não precisa de justificativa, porque não quer exercer nenhum tipo de influência sobre a realidade, muito menos indicar algum tipo de caminho, e sim questionar àqueles que arrogam para si este papel. 

O poeta-filósofo, i.e, o pensador-questionador, não busca mudar o mundo, busca, antes, encontrar-se a si em si mesmo. Para Benn, ele persegue sua “monomania individual”, e quando esta for universal, “criará a imagem mais perfeita possível de grandeza atingível pelo homem”. Grandeza esta que não quer impor, quer simplesmente ser. 








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