A questão do ser em Heidegger: uma rasa reflexão

A principal questão da filosofia – e do próprio pensamento – é a questão do ser. Para Heidegger, esta questão foi deixada de lado, principalmente pela metafísica tradicional, que se ocupou erroneamente da relação entre ser e ente. A crítica de Heidegger, porém, não vai somente à metafísica tradicional como também a todos nós. Nós que esquecemos o ser e esquecemos que esquecemos. Por óbvio, a questão do ser é obscura e algo indefinido, como o próprio filósofo reconhece, mas ainda assim, tal questão exige, em nossos tempos, reconhecimento e busca-questionamento, i.e, exige sua valorização.  

O sentido do ser é tempo, e Heidegger é mestre em alongar os caminhos, o que nesta empreitada não poderemos fazer, mas tentar encaminhar e dar brevemente luz ao que Heidegger quer nos desvelar. A primeira indagação de Heidegger, neste sentido, não é propriamente “o que é o ser?”, mas em “que sentido falamos do ser?” e como empregar a expressão ‘ente’ neste reflexionamento. Em um mundo, dentro de um contexto onde dominam as ciências modernas, cada uma com sua metodologia e “ontologia” própria, há sentido em questionar-se sobre o ser? Heidegger cria aí uma tensão, justamente para apresentar a sua tese: as ciências não têm clareza a respeito do que faz o ser humano ser ente. Tentam dividir o homem assim como fazem com os objetos naturais. Mas isto não passa de uma automistificação do Dasein, pois enquanto viver não estará concluído e plenificado. Assim, dando saltos e saltos, chegamos a descoberta do sujeito que pergunta em “que sentido falamos do ser?” O sujeito é, portanto, uma disposição [Stimmung], que, por sua vez, é a situação fundamental da angústia. Chegamos ao caminho. Na angústia o Dasein indaga pelo sentido do ser, pelo sentido do seu ser. Na angústia, nas palavras de Heidegger, revela-se “o ser-livre para a liberdade do escolher-a-si-mesmo e do apreender-a-si-mesmo. O ser desvela-se e fundamenta-se a si mesmo. O ser é no tempo e as coisas estão em seu tempo, o Dasein, porém, tem o seu próprio tempo. Neste sentido, o ser está à frente da possibilidade da impossibilidade da própria existência, e aqui, mantemo-nos, de certa forma, obscuros como Heidegger e como a própria questão do ser, que não pode ser objetualizada 

Portanto, o ser que apreende-se a si mesmo, reconhece suas inúmeras possibilidades enquanto ser-no-mundo [in-der-Welt-sein], ser-com-outros [Mit-sein-mit-anderen] e ser-adiante-de-si [Sich-vorweg-sein]. A questão do ser, para Heidegger, se mostra, evidentemente, paradoxal e complexa, longe de ser plenamente respondida e decodificada, mas por outro lado, tentamos aqui abordá-la de forma um tanto mais simples, ainda que rasa, e breve, quase que de forma abrupta e inconsequente.  



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